Ameaças

AMEAÇAS

A ocupação do Cerrado iniciou no século XVIII, com rápidos ciclos de exploração mineral que estabeleceram os primeiros povoados e trouxeram os pecuaristas para os sertões. Muito depois, as políticas para a ocupação do estado de Goiás, nos anos 40, e a construção de Brasília, na década seguinte, consolidaram “a marcha para o oeste” brasileiro. Contudo, foi somente a partir dos anos 70 que o processo de devastação dos recursos naturais do Cerrado se intensificou. Investimentos para o desenvolvimento da agropecuária estimularam a abertura da fronteira agrícola na região e, no fim dos anos 90, o Centro-Oeste brasileiro já tinha produção equivalente ao Sul e Sudeste. Atualmente, os usos agropecuários, que muitas vezes não respeitam a legislação de proteção ambiental, e o crescimento das cidades continuam a alterar o Bioma e dilapidar seu patrimônio.   

 


DESMATAMENTO

Entre 1970 e 1975, o desmatamento médio no Cerrado era de 40.000 km2 ao ano e estudos feitos em 2002, utilizando imagens do satélite MODIS, mostraram que 55% do Cerrado já estava desmatado ou transformado pela ação do homem (Machado et al., 2004a). Uma revisão efetuada pelo Centro de Sensoriamento Remoto (CSR/IBAMA, 2009) mostrou que, até 2008, a área desmatada estava em 975.711 km2. A velocidade do desmatamento no Cerrado é similar e, algumas vezes, muito superior ao desflorestamento na Amazônia (Klink; Moreira, 2002), o que faz alguns pesquisadores afirmarem que, se assim persistir, o Cerrado poderá desaparecer até 2030 (CI-Brasil, s/d). As principais causas do desmatamento são a agricultura, a produção de carvão (cavoarias), as queimadas e, mas recentemente, o crescimento urbano.

 


AGRICULTURA

Mais da metade do bioma Cerrado já foi transformado em pastagens plantadas (65.874km2ou 41,5%) e cultivos (17.985km2 ou 11,3%). Apesar dos solos do Cerrado serem ácidos e pobres em nutrientes, além de conterem muito alumínio, a tecnologia agrícola consegue torná-los produtivos, principalmente pela aplicação de fertilizantes e calcário. Contudo, os altos valores da produção agropecuária, que continua se expandindo, nem sempre não significam boas práticas. A forma de produção está causando muitos danos ambientais, como erosão e perda de nutrientes dos solos, poluição de cursos d’água e aqüíferos, desaparecimento de nascentes, invasão de espécies exóticas, fragmentação de habitat, redução da biodiversidade, alteração no regime de queimadas e até podem estar ocasionando alterações climáticas regionais (Klink; Moreira, 2002).

 


FOGO E QUEIMADAS

As queimadas são muito utilizadas no bioma, seja para estimular a rebrota das pastagens, seja para abrir ou “limpar” áreas para o plantio. Mesmo que o Cerrado seja considerado adaptado ao fogo, estas práticas causam prejuízos ao solo (perda de nutrientes, compactação e erosão) e a todo o ambiente. Se não efetuadas com os cuidados necessários, as queimadas podem atingir áreas maiores, naturais ou não. Por outro lado, eliminar totalmente o fogo, também pode causar danos. Se o material de fácil combustão se acumular, uma eventual queima na época de seca pode ocasionar temperaturas muito mais elevadas, as quais são prejudiciais à flora e à fauna do solo (Klink; Moreira, 2002), retardando ou impedindo sua recomposição.

 


CRESCIMENTO POPULACIONAL E OCUPAÇÃO IRREGULAR

Apesar das áreas urbanas ocuparem pouco menos de 2% do Cerrado (KLINK; MOREIRA, 2005), seus danos ambientais podem ser muito significativos. A transformação deste Bioma foi e, continua sendo, muito rápida. Sua população acresceu muito nos últimos 50 anos e, na maior parte dos casos, ocupou o território de forma desordenada. Os problemas mais comuns são poluição d’água, redução da quantidade e qualidade da água para abastecimento, degradação dos solos e, consequentemente, perda da qualidade ambiental. A caça também é preocupante, tanto em áreas rurais como em áreas naturais próximas de centros urbanos. Seja por necessidade ou para o tráfico, a coleta de espécies da fauna e da flora é muito efetuada e tem reduzido populações de algumas espécies silvestres, podendo desequilibrar os processos naturais ou mesmo causar a extinção local de algumas delas.

 


USO DA ÁGUA

O Bioma Cerrado é considerado o “berço das águas” e fornece água para outras regiões brasileiras. Entretanto, estudos e modelos de simulação ecológica têm demonstrado que alterações na cobertura vegetal do Cerrado modificam a hidrologia e afetam a dinâmica e os estoques de carbono no ambiente (KLINK; MOREIRA, 2005). O uso de água nos sistemas humanos para irrigar cultivos e abastecer cidades e indústrias é enorme, além de, normalmente, acompanhado de altos índices de desperdício. Apenas para dar uma idéia, os sistemas públicos de abastecimento no Brasil chegam a alcançar 45% de desperdício no volume de água ofertado à população (BRASIL, 1998). A forma de utilização da água subterrânea, geralmente empírica, improvisada e sem controle, também normalmente acarreta problemas, como poluição, interferência entre poços, impactos em áreas encharcadas e redução dos fluxos em rios, fontes e nascentes. Devemos lembrar que, mesmo que a superfície de nosso planeta seja 70% água, apenas 3% são águas doces e menos que isso é viável ao consumo humano.

 

Fontes:

BUSCHBACHER, R. (org.). 2000. Expansão agrícola e perda da biodiversidade no Cerrado: origens históricas e o papel do comércio internacional. WWF : Brasília.

MACHADO, R. B., RAMOS NETO, PEREIRA, P., CALDAS, E., GONÇALVES, D., SANTOS, N., TABOR, K., STEININGER. 2004. Estimativas de perda de área do Cerrado brasileiro. Brasília : Conservação Internacional do Brasil.

CSR/IBAMA - Centro de Sensoriamento Remoto/ Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. 2009. Relatório técnico de monitoramento do desmatamento no bioma Cerrado, 2002 a 2008: Dados Revisados. Acordo de cooperação técnica MMA/IBAMA/PNUD. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/estruturas/sbf_chm_rbbio/_arquivos/relatorio_tecnico_monitoramento_desmate_bioma_cerrado_csr_rev_72_72.pdf>. Acesso em junho de 2015.

CI-Brasil - Conservação Internacional-Brasil. s/d. Desmatamento no Cerrado. Publicação sem data. Disponível em: <http://desmatamento-no-brasil.info/desmatamento-do-cerrado.html>. Acesso em junho de 2015.

KLINK, C. A., MACHADO, R. B. 2005. A conservação do Cerrado brasileiro. In: Megadiversidade. Desafios e oportunidades para a conservação da biodiversidade no Brasil. Vol 1, 1: 147-155. Belo Horizonte : Conservação Internacional.

KLINK, C. A., MOREIRA, A. G. 2002. The role and current human occupation and land-use. In: OLIVIERA, P. S.; MARQUIS, R. J. (eds.) The Cerrado of Brazil. Ecology and natural history of a neotropical savanna. Pp. 96-88. New York : Columbia University Press.

BRASIL, 1998. Recursos hídricos no Brasil. Brasília : MMA. 33 p.

Laboratório de Pesquisas Interdisciplinares sobre Tecnologias e Educação
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